3/03/2005

Chuva de Dinheiro

Seria bom se de repente começassem a chover notas?

Bom, de facto, nos ultimos tempos nem a água tem caído do céu, mas não existir chuva de notas tem, além de quantidades óbvias de desvantagens, algumas vantagens...

O dinheiro simboliza algum poder, nem que seja: "vou comprar bubaloos em vez de trindents, porque gosto mais dos senhores da bubaloo e quero que eles possam comprar carros melhores". Mas este poder tem, (excepto no caso de herdeiros como a Paris Hilton, que, neste caso, como contrapartida, ficou com nome de hotel) de ser adquirido - e há razões para tal...

Uma pessoa, antes de enriquecer, tem de ter estrutura para tal: não podemos ter tudo desde que nascemos, sem ter uma educação que o suporte, por isso é que não posso ganhar o Totoloto nem o Euromilhões (e por isso é que há as desgraças que há quando pessoas com personalidades pouco definidas ganham).

Simplesmente, o dinheiro dá às pessoas a ilusão de que são importantes, mesmo que nunca tenham feito nada... nem plantado uma árvore...

Outra coisa que acontece, mesmo entre pessoas a quem 40 milhões de dólares (o que é preciso de se ter em investimentos para se ser oficialmente rico) sejam indiferentes, é a competição: 40 milhões de dólares dão para muita coisa, até para forrar um apartamento com notas de $100, mas se toda a gente pudesse ter uma piscina de notas para os filhos brincarem, seria preciso muito mais para se ser rico. Mesmo sendo rico, se temos um vizinho que tem um carro melhor, o instinto da maioria das pessoas é encomendar um Rolls-Royce, para haver certezas.

Ou seja, por muito dinheiro que tenhamos, nunca estamos satisfeitos (a não ser que tenhamos objectivos bem definidos desde pequenos, e mesmo assim...) e queremos sempre ter mais.

Assim, se agora começassem a chover notas, independentemente do seu valor, o mais provável (e esperto) seria ir apanhá-las. No entanto, ao vermos a pessoa ao nosso lado com o dobro do dinheiro na mão e a apanhar notas que vinham na nossa direcção, nunca pensaríamos se aquele dinheiro nos faria falta, se o merecíamos ou sequer se a sua entrada na nossa conta bancária seria boa para a nossa saúde mental: o único pensamento de alguém nesta situação seria muito provavelmente "Cabrão! Bastardo sangrento deste gajo que está a roubar a minha fortuna!!! Assim que eu possa, está lixado!" - o pior é que a "fortuna" nem sequer era de ninguém.

Portanto, o melhor é deixarmo-nos viver a nossa vida calma, aceitar a vida que nos calhou e fazer por satisfazer as necessidades básicas (o que nem sempre é fácil). A melhor maneira de enriquecer não é a mais rápida: é a que nos permite irmo-nos apercebendo do que se está a passar à nossa volta, sem darmos nas vistas (senão, todos acham que temos obrigação e é uma chatice) e com calma para não nos tornarmos sôfregos e perdermos ao autocontrolo (ainda damos por nós a vender droga...).