9/10/2009

da França com amor

Depois de uma grande bebedeira em Sao Martinho, de três dias de stress esquizofrenificante, de despedidas que pareciam velorios, eis que me encontro ao pé de Paris, a escrever no blog, sem todos os acentos, porque na France os teclados sao AZERTY.

Uma semana e um dia depois da minha chegada, tive tempo e vontade de vir aqui escrever. Nao é mau. Levei uma semana a ter saudades do meu inconsciente, que tento publicar aqui [com alguma censura].

Vou passar a descrever a minha viagem, saltando os pontos horriveis, tipo despedidas-quase-velorio. Ja agora so uma coisa para quem se for ausentar durante longos periodos de tempo: pela reacçao das pessoas, parece que vamos morrer, temos de manter o sangue-frio e em mente a ideia de que ainda estamos vivos e que nao planeamos deixar de o estar. No entanto, os ultimos dias na terra nao deixam de ser uma boa amostra do que seria se fossem os derradeiros dias na Terra.

Cheguei a Paris de aviao, nao sem antes, no Aeroporto de Lisboa, ter passado pelo tipico olha-quem-aqui-esta-!. Era a porteira do meu prédio velho, que é uma senhora amorosa. Estava a fazer companhia à amiga com um neto filho d'emigrante. O Nelson (o neto) era um verdadeiro Yves Saint-Mitra. O verdadeiro primo da França que vem no Verao e traz as Tendencias Mitra Outono Inverno. O Nelson trazia umas calças justas, presas com um cinto Louis Vuitton (talvez Luis Viton), um casaco justo e o cabelo em pé no centro e caindo para os lados (curto, assim tipo cachorro lambido). Ia ter com o Pai, que esta emigrado. Apanhou o mesmo aviao que eu. Voilà!

Que companhia melhor para mim no vôo que o Nelson?

O senhor que ia ao meu lado! Um talvez quarentao, que parecia nunca ter andado de aviao e cuja escapatoria para o medo era falar como se nao houvesse amanha - ele, provavelmente, achava que nao havia mesmo. Vinha mais o amigo de, pareceu-me, Val Paraiso (ao pé de S. Martinho!!!). Ia para o casamento da prima emigrante. Adorou as hospedeiras. Nao gostou tanto dos comissarios de bordo. Nao se calou o vôo todo. Diverti-me mais, quando entramos numa zona de turbulencia e ele quase em pânico: "mete ai o cinto se nao morres! F*****".

Entretanto aterramos (o tipo de Val Paraiso estava convencido que estavamos a aterrar numa Paris cheia de nevoeiro quando ainda estavamos na troposfera). Sai do aviao, esperei pelo Nelson (tinha 14 anos e era meio desorientado), fui buscar as malas, ainda com o Nelson, mas o Pai dele levou-o a seguir, arranjar um mapa do Metro (e RER - érre â érre) de Paris, ja sozinho, e seguir para Mennecy, um suburbio, do lado oposto ao aeroporto Charles de Gaulle. Cerca de 3 horas depois, cheguei a casa. Chovia. Meia hora depois de eu ter chegado, estava sol.

Conheci os meus anfitrioes, que me levaram logo a fazer o Navigo, que e o passe. 6 zonas, ou seja, vivo longe como o c. (mas em Outubro, acho que me mudo para o centro) e tenho de pagar mais de 100 euros. Para o mês que vem, deve ser so 50 e tal. 6 zonas tem a vantagem de nao ser preciso pagar mais para ir à Disney!

Isto tudo foi no dia 1 de Setembro, que começou de madrugada em Lisboa e acabou de noite, mas cedo, em Paris.

Dia 2 fui à Université Paris (IX) Dauphine, que é no 16eme. E num bairro chiquissimo, mas é um edificio tipo anos 1960, numa zona haussmanniana. Ou seja, é o patinho feio ali da zona. Inscrevi-me, foram simpaticos, resolveram-me os problemas que eu tinha na altura. Fiquei feliz, fui passear. Fiquei a conhecer a Avenue Foch, chiquissima, unicamente residencial (e com a embaixada de Angola num edificio lindo, mas mesmo espectacular), a Avenue des Champs-Elysées, o Jardin des Tuileries, o Jardin du Carrousel du Louvre, uma parte do Musée du Louvre e o que os peregrinos sentem quando vao a pé a Fatima. No segundo dia insisti e fui ao Sacré Coeur, andei por Montmartre, onde comprei uma agua Evian, que é fundamentalmente uma agua de garrafa que sabe pior que a da torneira, depois, se nao me engano ao Musée d'Orsay. Paguei no Louvre, nao paguei no Musée d'Orsay. Mistérios de uma cidade cosmopolita.

Depois fiquei dois dias sem conseguir andar muito. Aproveitei para conhecer Mennecy. Girissimo, parece Springfield (dos Simpsons), mas versao centro-europeia (a igreja tem um ar mais medieval e nao ha um ponto alto com vista sobre a terra. Tem um parque. Nao consegui passar da entrada, porque as pernas nao estavam com grande vontade. O parque, acho que é conhecido, é o Parc de Villeroy, se nao me engano.

Entretanto fim-de-semana e isso tudo. Eu depois conto, agora estou cansado.

Uma braço

6/30/2009

apeteceu-me

Apeteceu-me vir até aqui, ao belogue, que não foi assim que eu acordei - como dizem os que passam ao estado de vigília - escrever, porque eu, sou uma pessoa que escreve blogue, porque eu sou uma pessoa de princípios e acima de tudo um irmão de seu irmão, um amigo de seu amigo, colega de seu colega, vizinho de seu vizinho, um fã de seu fã, enfim, uma pessoa, bem, de - bem.

Ou não.

Não interessa. No fundo qualquer pessoa sabe que a seguir ao "eu sou uma pessoa que" não vem nada assim "de que muito se aproveite", como dizem as pessoas que não dizem nada que se aproveite. Tipo eu.

Gostas, meu caro único leitor, deste meu novo estilo estilo Miguel Esteves Cardoso (sim, duas vezes estilo)? Comecei agora a ler um livro dele. Eu acho que escrevo menos palavrões, mas o Miguel Esteves Cardoso tem um estatuto em que já pode tudo - e eu acho que merecido. E viram agora como escrevi ao meu estilo pessoal? Com travessões a meio das frases! É muito meu! É porque o elogio é a sério.
No entanto, distorcendo, escrever À Miguel Esteves Cardoso é um desfaio suficientemente desinteressante para eu tentar. A escrita de Miguel Esteves Cardoso, não acho desinteressante. A minha á que é, ora observe-se:

Capuchinho Vermelho

Eu estava no quarto a brincar. Uma brincadeira sem fim, como todas as crianças têm, acreditando-se presas naquela eternidade que é o tempo a passar, sem passar. A minha Mãe chamou-me. Foda-se. Tinha feito bolos. Dos que eu não gostava. Não eram para mim. Eram para a minha Avozinha, que estava doente.

Foi uma doença. Que nunca aconteceu, mas em que ela acreditou, como se fosse hipocondríaca. Mas nem isso era. Estava presa na velhice, como as velhas estão.

À espera da hora a que a mulher-a-dias devia chegar, mas não chega. Só para tomar nota que não chegou a horas. Sem nunca dizer nada. Refilar é para os novos. Um luxo dos que têm quem dependa deles. A vida é uma puta com o passar do tempo.

À espera da hora do almoço. E do lanche. E do jantar.

À espera do marido. Que morreu.

À espera de morrer, sem ver a hora.

A minha Mãe deu-me os bolos. Dos que eu não gostava. Que cheiro horrível. E tive de ir. O tempo embora parecesse não passar, era curto.

Quando dei por mim estava no meio da floresta. Nada. Ninguém. Uma clareira de Bétulas, onde vivia o cavaleiro da Dinamarca. Viveu. "Foda-se", pensei "Já me perdi". Segui em frente, em direcção a uns pinheiros, ou eucaliptos. Era indiferente. Até podiam ser ervas daninhas.

Apareceu um lobo. Alto. Bonito e esguio. Falava. Perguntou-me quem eu era, sempre com aquela autoridade dos guardas-florestais. Coisa que ele não era. "Onde vais, menina?". Onde é que eu ia? Com aqueles bolos que eu mal podia com o cheiro, não ia fazer um piquenique de certeza, mas ele, pensei na altura, não sabia e eu disse que ia a casa da minha Avó. Ele perguntou onde era. Mostrei-lhe o croqui. Ele fingiu que percebeu. Aproveitei, pedi-lhe orientações para o sítio. Eu estava perdida na clareira de Bétulas, onde Sophia de Mello Breyner Andresen colocara a casa de um Cavaleiro Dinamarquês. Ajudou-me com a expressão de quem tenta transmitir a convicção com que os polícias falam da lei, ou dos caminhos, ou do que é um agente de autoridade, como se o soubessem, mesmo sabendo que não os sabem, mas com medo de o admitir a si próprios, de ferirem a sua virilidade. Agradeci.

Cheguei a casa da minha Avó. Deitada na cama. Estava diferente. Estava feia. Peluda. Alta e esguia.

Não parecia estar à espera do que as velhas esperam.

Parecia estar à espera de bolos maus, dos que ela gosta. Como as bananas que ninguém come e que ficam maduras de mais, que lá em casa ficam para a minha Mãe. O instinto maternal faz gostar de fruta podre. E de muito mais coisas podres.

Não interessa agora.

Ela gosta, mas como velha que é, nunca espera nada. Não espera nada dos novos e úteis. Talvez nem mesmo a eutanásia. Sobrevive na dor. A dor de ter vivido feliz. Uma dor que é certa para todos os que chegam a velhos, mas que não é esta certeza que a conforta. Aliàs, não deseja aquela dor a ninguém. Só não quer incomodar. Mas incomoda. E ela sente-o. E para disfarçar isto é que a minha Mãe lhe manda bolinhos. Dos que ninguém gosta. Só ela. Dos que são feitos quase com desprezo, mas só para ela. Não dão muito trabalho. Eu que me foda e faça o favor de os vir trazer e ver este espectáculo.

Estava com os olhos grandes.

Era para ver melhor.

As orelhas grandes.

Para ouvir melhor. Os mexericos que ninguém quer saber. Só ela, para se entreter com alguma coisa que só a incomode a ela. Por que é que depois vai contar a quem não quer saber? Não sei. Ela também não.

A boca grande.

Para me comer.

Afinal tinha-me enganado. Não era a minha Avó, era o lobo. Se calhar enganei-me na casa. Como a criança que chega, olha à volta e tem de olhar outra vez, embasbacada com o Mundo. Gira e cai para tràs. É mesmo assim. É aprender. Foda-se, mas dói. Não foram vocês que acabaram de bater com o alto do toutiço.

Não, não me tinha enganado. Era mesmo o lobo disfarçado de Avó. Fodeu-se. A ganância dele foi mais pequena do que a do polícia que o quis seguir. Para fazer cumprir a lei. Uma lei em que ele não acredita. Ninguém acredita. Mas todos têm inveja de quem não a cumpre. Como todos temos inveja do Fausto de Goethe, que conseguiu enganar o diabo. Por trágico que o desfecho tenha sido.

O lobo acabou por morrer. Sem chegar a velho. A Avó sobreviveu. Condenada a viver. E a pensar na sorte do lobo, que morreu. Aqui presa mais anos. Que não acabam. Que não passam. Que quando tiverem passado, foram num instante.

5/18/2009

Como já seria de calcular

Cálculo II e Finanças. Et aprés Contabilidade de Gestão e Microeconomia. Talvez não por esta ordem.

Tenho exames dentro de uma semana e hoje estudei o meu rabo largo (my ass off - tradução cortesia de Google Tradutor Beta).

Só que ainda não estudei o suficiente. E como eu queria ser um tipo very professional, como se diz em Business, lá na Universidade New of Lisboa - Faculdade de Economics, vou estudar noite fora, noite adentro, venha o Tiago e escolha.

Foi muito giro este semestre! Correu, em termos intermédios, não mal, como eu reporto sempre à família. Foi interessante fazer trabalhos de grupo, cada um com um grupo mais diferente. Num fui o único rapaz, logo, o que gozava com a menina-explicadinha-que-tanto-fez-que-engatou-aquela-merda-toda, noutro, fui um dos rapazes, mas o que trabalhava menos, logo, o que gozava-com-os-dos-outros-grupos-que-eram-explicadinhos.

Também tive o prazer de poder apreciar o rego da Rafaela e a actividade vulcânica das costas da Susana. A Susana faz perguntas giras e interessantes e discute com os professores. Nós gostávamos que a Susana morresse. Descobri modas novas, como os rapazes que deixam crescer as unhas. É bonito. O LIDL é barato. Prefiro o LIDL.

Estão-me a ligar. Tenho de ficar por aqui, por muita pena que isto cause ao meu querido único leitor.

Uma braço

1/29/2009

Telles de Mello com 4 Ls

A família Telles de Mello com 4 Ls é uma família chiquíssima, como todos os primos devem saber.

A Mãe, Andre(i)a Telles de Mello é giríssima, engraçadíssima e é muitíssimo terra-a-terra. Como todos sabem, e adoram, tem uma conversa interessantíssima, que vai de Armani a Zara. Veio de Itália aos 4 anos, com os Pais, que entretanto morreram, achamos nós, não sei, para uma casa, pela conversa que ela conta, parece que no Estoril, não se percebe bem se é uma Ricciardi, mas parece que o apelido de solteira é Silva, que em Itália deve ser óptimo. Adora, adora, adora, 3 vezes ir à missa e acha os pobrezinhos uma coisa giríssima, menos aqueles de Leste muito escuros, assim parece que queimados do Sol e com olhos azuis que se penduram na janela do jipe dela a vender Bordas d'Água, que acha possidoníssimos, porque ainda por cima os Bordas d'Água não são originais, porque ela no outro dia viu na televisão, num programa, que não são. Não trabalha, claro.

O Pai, Afonso Maria Telles de Mello tem uma empresa, pelo menos é o que diz aos filhos, que vende pneus. Há quem diga que é uma garagem, mas ele garagem só conhece a dele, que tem um Bugatti antigo debaixo de uns cobertores e mais uns quantos carros giríssimos, assim tipo Rolls e mais não sei o quê, que parece que está sempre a trocar, porque cada vez que fala, diz que tem uns carros diferentes. De qualquer maneira, é tão giro e tão terra-a-terra, que vai trabalhar num Renault Clio 1.2 de 1994, giríssimo verde escuro, que comprou a um tio irmão do Pai, que já morreu, que pena. Afonso aposta numa educação religiosíssima para os seus filhos, mas preferiu pô-los em escola públicas, sei lá, para não ficarem muito estragados. Quer que os filhos, quando se formarem e forem trabalhar, não que precisem, mas depois o que é que haviam de fazer com tanto tempo livre, também vão de Renault Clio de 1994. A Mãe de Afonso Maria era uma querida, mas, tal como o Pai, que era educadíssimo, já morreu.

O Filho mais velho, Duarte Maria Telles de Mello segue as pisadas da linha masculina da família e está a tirar um curso giríssimo em que aprende a reparar carros, assim tipo curso profissional, que dá equivalência ao 12º. Antigamente havia imenso destes cursos e não tinha mal nenhum, mas com o 25 de Abril, aliás, desde que o Salazar caiu da cadeira, que isto este país vai pessimamente, quer dizer, cada um é mais sei lá o quê que o outro, e depois dão dois beijinhos e não sei quê e dizem que são "vermelhos", eu acho uma pirosada, uma coisa horrível e um disparate. Quer dizer, o Duarte não gosta de estudar, mas não é menos Telles de Mello por causa disso! Até antes pelo contrário, mas pronto. É religiosíssimo e adorava, adorava, adorava, ir de carro a Roma, como qualquer cristão deve. Duarte faz surf, geralmente nas Maldivas, o que é o máximo. Recusa-se a fazer surf em Portugal, que acha deprimente, porque a água é gelada e mais um monte de coisas que agora aqui não interessa. Infelizmente, tem imenso azar com as máquinas fotográficas, que perde sempre nos aeroportos, o que é uma pena, porque acaba sempre por perder os filmes de surf que faz com os primos nas Maldivas e nem um tem de recordação, coitado. Muitas vezes dá ténis velhos da Vans aos pobrezinhos, que adora, que usam para lhe atirar às costas, que para os pobrezinhos é um sinal qualquer de honra, não sei bem, mas é bom.

A Filha do meio, Maria do Rosário (Rosarinho) Telles de Mello adora o colégio e as amigas do colégio onde anda, que é um que há ali na Álvares Cabral. Os Álvares Cabral ainda são primos dos Telles de Mello, pelo lado do "es" do ÁlvarES e do TellES. Quando era pequenina adorava quando ia ao golf com o Pai apanhar bolas perdidas. Está a fazer o 11º ano há 3 anos, porque detesta estudar e agora, ainda por cima, usa-se imenso chumbar. Adora ir à missa com a Mãe e ajuda imenso na Paróquia. Canta no coro da missa e adora participar no ofertório. Só não gosta, na missa, da parte do beijinho, que além de pirosíssimo acha um nojo, sabe-se lá onde é que aquelas senhoras velhinhas andaram com as bocas e com as mãos, não é?

O mais novo, é o bebé da família, o Lourenço Maria Telles de Mello, já está crescidíssimo, da última vez que o vi, nem me dava pela cintura, agora está enorme, como dizia a Avó Dolores, que já morreu que pena, "espigadote" haha, antigamente era bem usar-se cada palavra "espigadote" haha! Anda sempre com uns amigos mais velhos, que devem ter imensos problemas de fígado ou não sei quê, que estão sempre com os olhos meios amarelos, meios encarnados. Seja como for, o Lourenço e alguns amigos adoram o golf e andam todos juntos no golf. Normalmente o Lourenço vai no lugar de trás ao meio, porque gosta, hã? Ah, ok, não se fala mais no golf. É azulão, pronto.

E pronto, aqui está uma família como deve de ser e mais não sei quê. É uma pena já não haver avós, mas pronto, morreram, ou preferem a vida do campo, que dá uma vida giríssima quase sem stress nenhum.